1.4.10
Juan Luis Panero (Testemunha de cinza)
TESTIGO DE CENIZA
En la roca que el mar golpea
o en la seca corteza de ese árbol,
en el viento que aulla contra los cristales,
sobre la huella de la arena o en la tierra más dura,
en el humo que se deshace entre tus manos,
escribe, escribe, como si aún descubrieras las palabras.
Escribe para píeles o piedras,
para blancos caballos, para aquellos ojos
que nunca te miraron y tú jamás miraste.
Escribe sin orgullo, pero tampoco con falsa modestia,
que no fue en vano tu paso por el mundo.
Olvida después tan estúpida frase
y mira el mar, las velas de aquel barco
que viene a rescatarte, su paciente cabecear sobre las olas,
las luces que se reflejan en la espuma.
Y escribe - sobre todo - cuando lo veas hundirse,
cuando desaparezca como el sueño o la bruma,
cuando ya no exista - sabido es que nunca existió -
escribe y repítelo en voz alta para el sordo mar, para el cielo distante.
Aprende así, testigo de ceniza,
el final implacable de tu ilusa labor,
y entonces, sin dudarlo - que no tiemble tu mano –
escribe, escribe, escribe, escribe.
Juan Luis Panero
Na rocha batida pelo mar
ou na casca seca dessa árvore,
é o vento que uiva contra os vidros,
sobre a pegada da areia ou na terra mais dura,
no fumo que se te desfaz entre as mãos,
escreve, escreve, como se descobrisses ainda as palavras.
Escreve para peles ou pedras,
para brancos cavalos, para esses olhos
que nunca te olharam e que tu jamais olhaste.
Escreve sem orgulho, mas tão pouco com falsa modéstia,
que não foi em vão tua passagem pelo mundo.
Esquece a seguir tão estúpida frase
e olha para o mar, as velas desse barco
que vem resgatar-te, seu paciente cabecear sobre as ondas,
as luzes reflectidas na espuma.
E escreve – sobretudo – quando o vires afundar-se,
quando desaparecer como o sonho ou a bruma,
quando já não existir – pois é sabido que jamais existiu –
escreve e repete-o em voz alta para o surdo mar, para o céu distante.
Aprende assim, testemunha de cinza,
o final implacável de teu labor ilusório
e então, sem hesitar - que a mão não te trema –
escreve, escreve, escreve, escreve.
(Trad. A.M.)
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