Em suma, Calisto era legitimista quieto, calado, e incapaz de empecer a roda do progresso, contanto que ele não lhe entrasse em casa, nem o quisesse levar consigo.
Prova cabal de sua tolerância foi ele aceitar em 1840 a presidência municipal de Miranda.
Na primeira sessão camarária falou de feitio e jeito que os ouvintes cuidavam estar escutando um alcaide do século XV levantado do seu jazigo da catedral.
Queria ele que se restaurassem as leis do foral dado a Miranda pelo monarca fundador.
Este requerimento gelou de espanto os vereadores; destes, os que puderam degelar-se riram na cara do seu presidente, e emendaram a galhofa dizendo que a humanidade havia já caminhado sete séculos depois que Miranda tivera foral.
- CAMILO CASTELO BRANCO,
A queda dum anjo (I - O herói do conto).
.