PRIMEIRO POEMA DE NAXOS
Em Naxos sobre os meus dedos caiu a sombra.
Ergueste muito alto o meu incerto tempo.
Finita atenção à minha volta.
Em Naxos, as dunas sob o vento, eu sei
tudo aqui é possível.
As casas mal iluminadas. A música que sei
estar num quarto
o nome mudado sem qualquer necessidade de
mudar. Um pequeno quarto em Naxos.
Entro numa rua. Bem podia ser Óbidos, se
Óbidos fosse uma ilha
e se tivesse menos sardinheiras nas janelas.
Entro numa rua incerto nos meus anos
o meu nome escrito há muito muito tempo.
Em Naxos
enumerei o meu prazer os olhos e a vida.
O verão é uma coisa imóvel
e a vida tão quieta
nem um vulcão temeria alterá-la memória
de um derradeiro arbusto que
a Naxos pertence. Mas em Naxos não
existe nada
as ruas os astros os barcos
são a a minha cabeça o agitado sono onde quem
constrói constrói de novo.
João Miguel Fernandes Jorge
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