18.8.24

Paul Bailey (Herança)




INHERITANCE

 

Despair’s a curious thing to give a child.
It was my father’s gift to me
times beyond numbering.

He gave it casually, in frowns and sighs,
with never any cause for decoration
or fancy wrapping.

His silences were like fugues to me,
their resonance composed of other silences
too terrible for voicing.

That was his way with his youngest son
who had battled for life at the age of four
and was still surviving.

He’d earned his gloom in Flanders, in the mud.
This much I learned on his last night alive
when he couldn’t stop talking.


Paul Bailey



O desespero é algo curioso para oferecer a uma criança.
Foi, vezes inúmeras, a prenda
que o meu pai me deu.

Casualmente, franzindo a testa e suspirando,
não havendo razão nenhuma para enfeites
ou fazer um embrulho vistoso.

Os seus silêncios eram fugas para mim,
de ressonância composta por outros silêncios
demasiado terríveis para terem voz.

Tratava assim o seu filho mais novo
que aos quatro anos estivera a morrer
e andava ainda a sobreviver.

O pessimismo viera-lhe da Flandres, da lama.
Isso soube eu na última noite da sua vida
quando não conseguia deixar de falar.


(Trad. FJCC)

 

>>  Poetry Soup (4p) / Wikipedia

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