6.12.22

Joan Margarit (Velho enfermo)




VELHO ENFERMO

 

Dentro de mim há um temporal
com vento e chuva
e pouco tempo para compreender.
Começa uma defesa sem piedade,
a morte conhece um só sentimento,
a indiferença. Em mim, porém, domina
- poderoso, quase violento, às vezes -
o desejo de viver.
Viver, por mais que o mal seja fero e áspero,
uma noite que me fala de um inverno
surgido em pleno estio, mais frio que nunca.
Passei-o, agasalhado num casaco de lã,
uma manta nas pernas
e a tremer de frio, quase sem forças.
Os olhos para a luz e, por dentro, apesar
de ser cada vez mais funda a negrura,
sempre, poderosa, a alegria.


Joan Margarit

(Trad. A.M.)

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