16.2.21

Josep M. Rodríguez (Equação)

 


EQUAÇÃO

 

De pé neste penhasco,
aceito a mentira da paisagem. 

Tudo é inacessível:
o orvalho
             – que é suor vegetal –
e o comboio que passa.

Uma cegonha voa a preto e branco. 

Tem o seu ninho no cimo da igreja
que fica junto ao cemitério.
Estranho paradoxo,

 a pedra testemunha a fugacidade,
a carne é apenas um leito para o tempo. 

(Cada osso que tenho é uma lápide
pelos mortos que escondo no meu íntimo.)

Para quê contar o tempo que nos resta?

Viver é abraçar escuridões:
do que não sabemos ao que não sabemos,
de uma distância a outra distância.
Tudo é inacessível.

 Quem vê um comboio passar compreende o resto.

 
Josep M. Rodríguez

 (Trad. Manuel de Freitas)


[Averno]

 

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