EQUAÇÃO
De pé neste penhasco,
aceito a mentira da paisagem.
Tudo é inacessível:
o orvalho
– que é suor vegetal –
e o comboio que passa.
Uma cegonha voa a preto e branco.
Tem o seu ninho no cimo da igreja
que fica junto ao cemitério.
Estranho paradoxo,
a carne é apenas um leito para o
tempo.
(Cada osso que tenho é uma lápide
pelos mortos que escondo no meu
íntimo.)
Para quê contar o tempo que nos resta?
Viver é abraçar escuridões:
do que não sabemos ao que não
sabemos,
de uma distância a outra
distância.
Tudo é inacessível.
[Averno]