26.2.21

Juan Gelman (Opinião)



OPINIÓN


Los poemas escritos en
estado de frialdad tienen
una ventaja: están escritos
en estado de frialdad. El odio
del vecino no entra ahí, ni el vecino
atado a su odio y
se puede alabar las bellezas del paisaje.
Alabar es una palabra rara, lleva
del ala al bar donde
el estaño está mudo.
Los poemas sin sangre
tienen una ventaja:
no tienen sangre, ni
sacudones mortales o inmortales, ni
la imperfección, la suciedad
de todos. Eso cae y nada
perturba a la tierra.
A los poetas que practican esa visión y
sin duda escriben hermosos poemas,
habría que levantarles una estatua
ciega que no se vea.
Es bello su no estar.
Todo está bien afuera
de todo lo que está mal, intocado y
lejos de la escritura, lejos,
en un canto bajito.

Juan Gelman





Os poemas escritos em
estado de frialdade têm 
uma vantagem, ser escritos
em estado de frialdade. O ódio
do vizinho não entra aí, nem o vizinho
amarrado ao seu ódio e
podem alabar-se as belezas da paisagem.
Palavra estranha, alabar, vai
da ala ao bar, onde
o estanho é mudo.
Os poemas sem sangue
têm uma vantagem,
não têm sangue, nem
abanões mortais ou imortais, nem
a imperfeição ou a sujidade
dos outros. Isso cai e nada
perturba a terra.
Os poetas que praticam essa visão e
escrevem sem dúvida belos poemas
deviam ter uma estátua
cega que não se visse.
É belo seu não estar.
Tudo está bem fora 
tudo o que está mal, intocado
e longe da escrita, longe,
num canto baixinho.

(Trad. A.M.)