21.2.21

Rocío Acebal Doval (Filhos da bonança)



HIJOS DE LA BONANZA

 

Mi infancia son recuerdos de un piso a las afueras
y un huerto descuidado en la ventana;
mi juventud, veinte años de cuadernos de inglés. 

Conseguirás —dijeron—
mucho más que tus padres y sus padres:
estudia cuatro años y tendrás un trabajo,
trabaja y vivirás siempre tranquila;
trabaja y serás digna de un futuro.
Asentí, como todos —hijos de la bonanza. 

No atendimos a aquel presentimiento,
aquel olor a pólvora —aún distante—
que asomaba en voz baja
como un eco de angustia a puertas de palacio.

De aquel país ajeno a las fronteras
solo guardo el recuerdo de la luz
y una aversión a la palabra patria.
 

 Rocío Acebal Doval

 

 

Minha infância são lembranças de um andar nos subúrbios
e um horto descuidado na janela;
a juventude, vinte anos de cadernos de inglês.

Conseguirás – diziam –
muito mais que teus pais e que os pais deles:
estuda e terás trabalho,
trabalha e viverás sempre tranquila,
trabalha e terás direito a um futuro.
Concordei, como todos – os filhos da bonança.

Não atendemos ao pressentimento,
aquele cheiro a pólvora – distante ainda –
que assomava em voz baixa
como um eco de angústia às portas de palácio.

Daquele país alheio às fronteiras
guardo apenas a lembrança da luz
e uma aversão à palavra pátria.


(Trad. A.M.)

_____________________

> Os primeiros versos mimam: Antonio Machado (Retrato)


.