19.8.19

Pablo Neruda (Testamento)





TESTAMENTO



Dejo a los sindicatos
del cobre, del carbón y del salitre
mi casa junto al mar de Isla Negra.
Quiero que allí reposen los maltratados hijos
de mi patria, saqueada por hachas y traidores,
desbaratada en su sagrada sangre,
consumida en volcánicos harapos.

Quiero que al limpio amor que recorriera
mi dominio, descansen los cansados,
se sienten a mi mesa los oscuros,
duerman sobre mi cama los heridos.

Hermano, ésta es mi casa, entra en el mundo
de flor marina y piedra constelada
que levanté luchando en mi pobreza.
Aquí nació el sonido en mi ventana
como en una creciente caracola
y luego estableció sus latitudes
en mi desordenada geología.

Tu vienes de abrasados corredores,
de túneles mordidos por el odio,
por el salto sulfúrico del viento:
aquí tienes la paz que te destino,
agua y espacio de mi oceanía.


Pablo Neruda

[Voar fora da asa]




Deixo aos sindicatos
do cobre, do carvão e do salitre
minha casa junto ao mar em Isla Negra.
Quero que ali repousem os maltratados filhos
da minha pátria, saqueada por machados e traidores,
desbaratada em seu sangue sagrado,
consumida em vulcânicos farrapos.

Quero que ao limpo amor que percorreu
meu domínio, descansem os cansados,
sentem-se à mesa os humildes,
durmam os feridos na minha cama.

Irmão, esta é minha casa, entra no mundo
de flor marinha e pedra constelada
que eu ergui lutando em minha pobreza.
Aqui nasceu o som em minha janela
como num búzio,
e depois fixou as latitudes
em minha desordenada geologia.

Tu vens de abrasados corredores,
de túneis mordidos pelo ódio,
pelo salto sulfúrico do vento:
aqui tens a paz que te deixo,
água e espaço de minha oceania.

(Trad. A.M.)

.