1.8.19

Nicanor Parra (Advertência ao leitor)





ADVERTENCIA AL LECTOR



El autor no responde de las molestias que puedan ocasionar sus escritos:
Aunque le pese.
El lector tendrá que darse siempre por satisfecho.
Sabelius, que además de teólogo fue un humorista consumado,
Después de haber reducido a polvo el dogma de la Santísima Trinidad
¿Respondió acaso de su herejía?
Y si llegó a responder, ¡cómo lo hizo!
¡En qué forma descabellada!
¡Basándose en qué cúmulo de contradicciones!

Según los doctores de la ley este libro no debiera publicarse:
La palabra arco iris no aparece en él en ninguna parte,
Menos aún la palabra dolor,
La palabra torcuato.
Sillas y mesas sí que figuran a granel,
¡Ataúdes!, ¡útiles de escritorio!
Lo que me llena de orgullo
Porque, a mi modo de ver, el cielo se está cayendo a pedazos.

Los mortales que hayan leído el Tractatus de Wittgenstein
Pueden darse con una piedra en el pecho
Porque es una obra difícil de conseguir:
Pero el Círculo de Viena se disolvió hace años,
Sus miembros se dispersaron sin dejar huella
Y yo he decidido declarar la guerra a los cavalieri della luna.

Mi poesía puede perfectamente no conducir a ninguna parte:
“¡Las risas de este libro son falsas!”, argumentarán mis detractores
“Sus lágrimas, ¡artificiales!”
“En vez de suspirar, en estas páginas se bosteza”
“Se patalea como un niño de pecho”
“El autor se da a entender a estornudos”
Conforme: os invito a quemar vuestras naves,
Como los fenicios pretendo formarme mi propio alfabeto.
“¿A qué molestar al público entonces?”, se preguntarán los amigos lectores:
“Si el propio autor empieza por desprestigiar sus escritos,
¡Qué podrá esperarse de ellos!”
Cuidado, yo no desprestigio nada
O, mejor dicho, yo exalto mi punto de vista,
Me vanaglorio de mis limitaciones
Pongo por las nubes mis creaciones.

Los pájaros de Aristófanes
Enterraban en sus propias cabezas
Los cadáveres de sus padres.
(Cada pájaro era un verdadero cementerio volante)
A mi modo de ver
Ha llegado la hora de modernizar esta ceremonia
¡Y yo entierro mis plumas en la cabeza de los señores lectores!


Nicanor Parra




O autor não responde pelos incómodos que seus escritos possam causar.
Embora lhe custe.
O leitor terá de dar-se sempre por satisfeito.
Sabelius, que além de teólogo foi humorista consumado,
depois de reduzir a pó o dogma da Santíssima Trindade
acaso respondeu pela sua heresia?
E se chegou a responder, como é que o fez?
Em que forma descabelada,
baseando-se em que rima de contradições?

Este livro, segundo os doutores da lei, não devia ser publicado:
A palavra arco-íris não aparece em lado nenhum,
e menos ainda a palavra dor,
como também a palavra torquato.
Cadeiras e mesas, sim, entram a granel,
ataúdes, artigos de escritório!
O que me enche de orgulho,
já que, a meu ver, o céu está a cair aos pedaços.

Os mortais que leram o Tractatus de Wittgenstein
podem bater com uma pedra no peito
pois é uma obra difícil de conseguir;
mas o Círculo de Viena dissolveu-se há anos,
os membros dispersaram-se sem deixar rasto
e eu decidi declarar guerra aos ‘cavalieri della luna’.

A minha poesia pode perfeitamente não levar a nenhum lado:
‘São falsos os risos deste livro!’,
argumentarão os meus detractores
‘As suas lágrimas, artificiais’
‘Em vez de suspirar, nestas páginas boceja-se’
‘Esperneia-se como uma criança de peito’
‘O autor faz-se entender aos soluços’
Certo, convido-vos a queimar os vossos navios,
já que pretendo criar como os fenícios o meu próprio alfabeto.
‘Para quê incomodar então o público’,
perguntarão os amigos leitores:
‘Se o próprio autor começa por desprestigiar seus escritos,
o que poderá esperar-se dos mesmos?’
Atenção, eu não desprestigio nada,
ou melhor, eu exalto o meu ponto de vista,
vanglorio-me das minhas limitações
ponho as minhas criações nas nuvens.

Os pássaros de Aristófanes
enterravam os cadáveres dos pais
em suas próprias cabeças.
(Cada pássaro era um verdadeiro
cemitério ambulante)
No meu modo de ver
chegou a hora de modernizar a cerimónia:
Eu enterro as minhas plumas na cabeça
dos senhores leitores.


(Trad. A.M.)

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