ÚLTIMO RETRATO DE JUVENTUD
Hace casi tres años que no escribo
poemas, me abandono, apenas leo;
no me cultivo ni me informo. Siento
dentro de mí una especie de vacío
que avanza —y no me asusta— como un río
de lava; o mejor, como un desierto
que va ganando más y más terreno
al calcinado bosque, ayer tan vivo.
Sueño poco. Deseo lo necesario.
No tengo nada, y nada extraordinario
espero en adelante. No disfruto
del placer de vivir. Miro la vida
con reserva y distancia. Cada día
me consienten los años menos humos.
Javier Salvago
Há quase três anos não escrevo
poemas, abandono-me, mal leio;
não me cultivo nem me informo. Sinto
cá dentro uma espécie de vazio
que avança - e não me assusta - como um rio
de lava; ou melhor, como um deserto
que vai ganhando mais e mais terreno
ao calcinado bosque, tão vivo ontem.
Sonho pouco. Desejo o necessário.
Não tenho nada, e nada de especial
espero do futuro. Não desfruto
do prazer de viver. Observo a vida
com reserva e distância. Cada dia
os anos me consentem menos ilusões.
(Trad. A.M.)
> Outra versão:
Do trapézio (L.P.)
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