OCTOBER
(4)
The light has changed;
middle C is tuned darker now.
And the songs of morning sound over-rehearsed.
This is the light of autumn, not the light of spring.
The light of autumn:
you will not be spared.
The songs have changed; the unspeakable
has entered them.
This is the light of autumn, not the light that says
I am reborn.
Not the spring dawn:
I strained, I suffered, I was delivered.
This is the present, an allegory of waste.
So much has changed. And still, you are fortunate:
the ideal burns in you like a fever.
Or not like a fever, like a second heart.
The songs have changed, but really they are still quite beautiful.
They have been concentrated in a smaller space, the space of the mind.
They are dark, now, with desolation and anguish.
And yet the notes recur. They hover oddly
in anticipation of silence.
The ear gets used to them.
The eye gets used to disappearances.
You will not be spared, nor will what you love be spared.
A wind has come and gone, taking apart the mind;
it has left in its wake a strange lucidity.
How privileged you are, to be passionately
clinging to what you love;
the forfeit of hope has not destroyed you.
Maestro, doloroso:
This is the light of autumn; it has turned on us.
Surely it is a privilege to approach the end
still believing in something.
Louise Glück
[
The floating library]
A luz mudou,
o dó está mais cavo agora.
E a canção da manhã retumba no espaço.
Eis a luz outonal, não a luz da primavera.
A luz de outono:
Tu não serás poupado.
A canção mudou, penetrada
pelo indizível.
Eis a luz de outono, não a que diz:
Nasci de novo.
Não a aurora da primavera:
Fiz força, sofri, fui parida.
Eis o presente, alegoria de desperdício.
Muito mudou, mas tu tens sorte:
o ideal arde em ti como febre.
Ou não como febre, mas como um segundo coração.
A canção mudou, mas é ainda uma beleza.
Confinada agora a um espaço mais pequeno,
o espaço da mente.
Um pouco triste, algo desolada, angustiosa.
Mas comparecem, as notas, rondam estranhamente,
antecipando o silêncio.
E o ouvido habitua-se a elas,
como os olhos se habituam à ausência.
Tu não serás poupado, nem será poupado o teu amor.
Um vento veio e se foi, desarticulando a mente
e deixando no seu rasto uma estranha lucidez.
Ó privilégio, este de viver com paixão
agarrado àquilo que se ama,
não ser destruído pela perda da esperança.
Maestro, doloroso:
Eis a luz de outono, derramada sobre nós.
Ó privilégio, acercar-se do fim
e crer ainda em alguma coisa.
(Trad. A.M.)
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