12.7.14

Fialho de Almeida (No Tejo-2)





Circunscrevemos a ponta dos moinhos, e a enseada alarga-se, a toalha líquida desdobra-se - a água mal se enruga, uma placidez de espelho reflecte os mastros das barcaças - e ainda por alguns instantes a fragata nos leva empós de si o olhar artista, que lhe aprecia a mancha, como um memento da luz a escorrer de sensação.

Na ré, curvando-se a cada instante aos movimentos da corda que põe em riste a vela, a figura colossal do rapaz é linha de energia, e a lentidão da manobra, constante duma série de movimentos análogos de duração e de amplitude, parece feita de versos mimados, cujo magnífico ritmo enche duma ternura fisica a natureza.

Pouco a pouco, a luz transmuta-se, cambiam-se no ar tonalidades que a fugida das névoas renova e substitui com uma instantânea agilidade, e que mercê dela, tiram dessa mesma paisagem, centenas de clichés todos diferentes, qual mais vaporosamente irisado de estro trágico.

Já as margens do rio se afastam, verdadeiramente vencidas pela força de expansão do volume de água, que vai de rio a oceano, e abarca no Mar de Palha, uma distância intérmina e radiosa.

(30-Março-1891)
Os Gatos

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