3.1.13

João Araújo Correia (A Primavera)





A Primavera...

Não são os nimbos a galopar no céu como cavalos de luto, de saio esfarrapado.

Este vento – travessura de boca ociosa a soprar frio sobre amante dormido – não é!

Rosas desabrochadas, jamais, que as rosas, neste desterro, mal nascidas, pecam.

Corolas amarelas naquele muro, recortadas à tesoira e brunidas de mão presunçosa; o caldo galego orelhudo, abana que abana, até aflorar o chão esterroado; os chorões, rendidos como Job e os amanuenses a todos os decretos; os pâmpanos juvenis; os aulidos dos cavadores; os ralhos da rua, as florescências más dos soalheiros, o espiolhamento às portas, tudo quanto abarca uma retina esquisita; as túlipas branco e sangue que me instruem sobre a escrivaninha de disciplina e cor, nem essas me transmitem o hálito do maio-moço, que vem bêbedo, nitrindo, resvalando dos oiteiros, vestido como um maníaco, em torvelinhos, em convulsões, em ritmos de exaltação e quebranto.

É nas dolorosas que vestem de escuro e marcham devagarinho, velam o olhar, são doidas por violetas e enfermam à luz diurna, que eu sinto pulsar, através dos panos de dó, a Primavera.



- JOÃO DE ARAÚJO CORREIA, Sem Método, XIX.

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