5.6.12
Valter Hugo Mãe (Gordo e careca)
GORDO E CARECA
onde vais, valter hugo mãe, tão sem ter
com quem, tão precipitado no vazio do
caminho à procura de quê
porque não ficas em casa, resignadamente só, a
ver como a vida se gasta sem culpa nem glória
és um rapaz estranho, valter hugo mãe, aí metido
num amor nenhum que te magoa, e esperas ter
lugar no mundo, com tanto que o mundo tem de distraído
devias morrer no dia dezoito de março de
mil novecentos e noventa e seis, como dizes
que vai acontecer, para que se acabe essa
imprecisa sentença que é a vida
volta a fechar a porta, não há nada para ti lá fora
e está frio, tens reumatismo, dói-te a cabeça, estás
gordo e careca, não faz sentido sequer que
tentes chegar às luzes esbatidas da marginal, ainda
que seja só ao lado manos percorrido pelos banhistas
volta a fechar a porta e talvez durmas, está um
agradável silêncio no prédio, tenho a certeza de que
reparaste nisso
VALTER HUGO MÃE
Contabilidade
Poesia 1996-2010
Alfaguara (2010)
>> Valter Hugo Mãe (sítio oficial) / Casa de osso (blogue) / Wikipedia
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