10.1.19

Miguel Torga (Adeus)




ADEUS


É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus...
Agora,
o remédio é partir discretamente,
sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
contra o destino?
Cego assassino
a que nenhum poder
limita a crueldade,
só o pode vencer a humanidade
da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade
consumada,
um poema de líquido pudor,
um sorriso de amor,
e mais nada.


Miguel Torga

[Cómo cantaba mayo]


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