16.1.17

João Guimarães Rosa (Descendo na cava)





Descendo na cava, por feliz a gente vinha em oculto.
E, justo, já embaixo, no principiar da várzea, era um capim com mais viço, capinzal do fresco de pé-de-serra.
Capim mais alto do que eu – nele à gente se tapava.
Coincidido que, permeio o verde dos talos, a gente via algumas borboletas, presas num lavarinto, batendo suas asas, como por ser.
Caiu o açúcar no mel!
Porque, igual também convim que podíamos ladear um tanto; e, daí, separei, de cabeça, um grupo de homens, que iam ir com o Fafafa: esses avançarem primeiramente – como a certa isca – perturbando o cálculo do inimigo, ao dar o dar.
Respiramos tempo, naqueles transitórios.
De rechego, coçando as caras no capim em pontas, que dava vontade de se espirrar.
Só o rumor que se ouvia era o dos cavalos abocanhando.
Eu tinha pressa de um final, mas o que ia mor em mim era um lavorar de paciência: talento com que eu podia ficar retardando lá, a toda a vida.
Safas – que eu podia dar também um pulo, enorme, sustirado, repentemente.
Vi: o que guerreia é o bicho, não é o homem.


JOÃO GUIMARÃES ROSA
Grande Sertão: Veredas
(1956)