3.11.10

Mark Strand (A horas mortas)






THE LATE HOUR




A man walks towards town,
a slack breeze smelling of earth
and the raw green of trees blows at his back.


He drags the weight of his passion as if nothing were over,
as if the woman, now curled in bed beside her lover,
still cared for him.


She is awake and stares at scars of light
trapped in panes of glass.
He stands under her window, calling her name;


he calls all night and it makes no difference.
It will happen again, he will come back wherever she is.
Again he will stand outside and imagine


her eyes opening in the dark
and see her rise to the window and peer down.
Again she will lie awake beside her lover


and hear the voice from somewhere in the dark.
Again the late hour, the moon and stars,
the wounds of night that heal without sound,


again the luminous wind of morning that comes before the sun.
And, finally, without warning or desire,
the lonely and feckless end.



Mark Strand



[Balconcillos]






Um homem caminha para a cidade
com uma brisa débil pelas costas
que cheira à terra e ao verde das árvores.


Arrasta o peso da paixão como se nada tivesse acabado,
como se a mulher, enrolada na cama com o amante,
ainda se interessasse por ele.


Ela está acordada e olha fixamente as cicatrizes da luz
agarrada às vidraças.
Ele, debaixo da janela, chama-a pelo nome;


toda a noite a chama, mas não adianta.
Novamente, mais tarde, ele voltará onde ela está.
Ali ficará, de fora, imaginando


os olhos dela abertos no escuro,
vendo-a levantar-se e ir à janela olhar para baixo.
Lá está ela acordada na cama com o amante,


quando ouve a voz no escuro, algures.
Horas mortas, a lua e as estrelas,
as feridas da noite sarando em silêncio,


o luminoso vento da manhã que chega antes do sol.
E por fim, sem aviso nem desejo,
o solitário, impotente desfecho.


(Trad. A.M.)




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