19.4.25

Casimiro de Brito (Nem imaginas)

 



Nem imaginas o que desejo que tu sejas

sem nunca deixares de ser uma mulher: 
uma cobra uma deusa uma raposa

um anjo uma cama de areia uma melodia uma
escultura de mármore 
plantas subaquáticas uma mártir uma longa 
gota de água ou sal ou mel ou aura uma Vénus 

uma pura cortesã de Pompeia uma musa coberta 
de peles uma fera uma fada uma feiticeira 
uma menina um vulcão um arco-íris um jardim

sei lá que mais – poderás ser tudo isto

e mais, e mais. E deixares que em ti me derrame, 
que em ti me complete. A luz da tua pele 
cega-me.

Casimiro de Brito

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