24.4.25

Camilo Castelo Branco (Os amigos)




OS AMIGOS

 

Amigos cento e dez, e talvez mais,
eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Supus que sobre a terra não havia
mais ditoso mortal entre os mortais.
 
Amigos cento e dez, tão serviçais,
tão zelosos das leis da cortesia,
que eu, já farto de os ver, me escapulia
às suas curvaturas vertebrais.
 
Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
que não desfez os laços quase rotos.
 
– Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!

Camilo Castelo Branco

[Canal de poesia]

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