UN
ETRANGER
Produce
cierta melancolía,
una
tristeza decadente –literaria sin duda–
como
algunas canciones de entreguerras
o
páginas perdidas de Drieu La Rochelle,
ver a un
hombre solo, apartado y distante,
en la
barra de un bar con decorado internacional.
En esa
imprecisa edad, tan imprecisa como la luz del ambiente,
en que
ya no es joven ni viejo todavía
pero
lleva en sus ojos marcada su derrota
cuando
con estudiado gesto enciende un cigarrillo.
Las
muchas canas y las muchas camas,
un
indudable estómago que la camisa inglesa apenas disimula,
el
temblor, no demasiado visible, de su mano en un vaso,
son
parte del naufragio, resaca de la vida.
Un
hombre que espera ¿quién sabe qué?
y
aspirando el humo, mira con declarada indiferencia
las
botellas enfrente, los rostros que un espejo refleja,
todo con
la especial irrealidad de una fotografía.
Y es
aún, algo más triste, un hondo suspiro reprimido,
ver al
fondo del vaso –caleidoscopio mágico–
que ese
hombre eres tú irremediablemente.
No queda
entonces sino una sonrisa: escéptica y lejana,
aprendida
muy pronto y útil años después—
de un
largo trago acabar la bebida,
pagar la
cuenta mientras pides un taxi
y
decirte adiós con palabras banales.
Juan Luis Panero
Dá
uma certa melancolia
uma
tristeza decadente — literária sem dúvida —
como
certas canções de entre-guerras
ou
páginas perdidas de Drieu de la Rochelle,
ver
um homem sozinho, apartado e distante,
ao
balcão de um bar com ar cosmopolita.
Nessa
idade incerta, tão incerta como a luz ambiente,
em
que já não é jovem nem é velho ainda,
mas
vê-se-lhe nos olhos gravada a derrota,
quando
acende um cigarro com estudado gesto.
As
muitas cãs e as muitas camas,
uma
certa barriga que a camisa inglesa disfarça mal,
o
tremor, não muito visível, da mão com o copo,
são
sinais do naufrágio, da ressaca da vida.
Um
homem à espera sabe-se lá de quê,
puxando
o fumo, olha com manifesta indiferença
as
garrafas em frente, os rostos reflectidos no espelho,
tudo
com a especial irrealidade da fotografia.
E
há ainda, algo mais triste, um fundo e contido suspiro,
vendo
no fundo do copo — caleidoscópio mágico —
que
esse homem és tu, tu sem remédio.
Não
há mais então do que um sorriso, céptico e distante,
—
aprendido cedo e útil nos anos após —
acabares
a bebida com um grande trago
pagares
a conta enquanto pedes um táxi
e
despedires-te com palavras banais.
(Trad.
A.M.)
> Outras
versões: Do trapézio (R.C.Ferreira) / Antologia
do esquecimento (A.Cabrita e outra)