7.4.25

Juan Luis Panero (Un étranger)

 



UN ETRANGER

 

Produce cierta melancolía,
una tristeza decadente –literaria sin duda–
como algunas canciones de entreguerras 
o páginas perdidas de Drieu La Rochelle,
ver a un hombre solo, apartado y distante,
en la barra de un bar con decorado internacional.
En esa imprecisa edad, tan imprecisa como la luz del ambiente,
en que ya no es joven ni viejo todavía
pero lleva en sus ojos marcada su derrota
cuando con estudiado gesto enciende un cigarrillo.
Las muchas canas y las muchas camas,
un indudable estómago que la camisa inglesa apenas disimula,
el temblor, no demasiado visible, de su mano en un vaso,
son parte del naufragio, resaca de la vida.
Un hombre que espera ¿quién sabe qué?
y aspirando el humo, mira con declarada indiferencia
las botellas enfrente, los rostros que un espejo refleja,
todo con la especial irrealidad de una fotografía.
Y es aún, algo más triste, un hondo suspiro reprimido,
ver al fondo del vaso –caleidoscopio mágico–
que ese hombre eres tú irremediablemente.
No queda entonces sino una sonrisa: escéptica y lejana,
aprendida muy pronto y útil años después—
de un largo trago acabar la bebida,
pagar la cuenta mientras pides un taxi
y decirte adiós con palabras banales.
 

Juan Luis Panero 

[Poeticous]

 

Dá uma certa melancolia 
uma tristeza decadente — literária sem dúvida —
como certas canções de entre-guerras
ou páginas perdidas de Drieu de la Rochelle,
ver um homem sozinho, apartado e distante,
ao balcão de um bar com ar cosmopolita.
Nessa idade incerta, tão incerta como a luz ambiente,
em que já não é jovem nem é velho ainda,
mas vê-se-lhe nos olhos gravada a derrota,
quando acende um cigarro com estudado gesto.
As muitas cãs e as muitas camas,
uma certa barriga que a camisa inglesa disfarça mal,
o tremor, não muito visível, da mão com o copo,
são sinais do naufrágio, da ressaca da vida.
Um homem à espera sabe-se lá de quê,
puxando o fumo, olha com manifesta indiferença
as garrafas em frente, os rostos reflectidos no espelho,
tudo com a especial irrealidade da fotografia.
E há ainda, algo mais triste, um fundo e contido suspiro,
vendo no fundo do copo — caleidoscópio mágico —
que esse homem és tu, tu sem remédio. 
Não há mais então do que um sorriso, céptico e distante,
— aprendido cedo e útil nos anos após —
 acabares a bebida com um grande trago
pagares a conta enquanto pedes um táxi
e despedires-te com palavras banais.
 

(Trad. A.M.)
 

> Outras versões: Do trapézio (R.C.Ferreira) / Antologia
do esquecimento
 (A.Cabrita e outra)

 .