GRETEL NA ESCURIDÃO
Este é o mundo que desejávamos.
Todos os que nos queriam mortos
estão mortos. Ouço o grito da
bruxa
a rasgar o luar através de uma
mortalha
de açúcar: Deus recompensa.
A língua dela desfaz-se em gás. …
Agora, longe de braços de mulheres
e memória de mulheres, na cabana
do nosso pai
dormimos, nunca temos fome.
Por que não esqueço?
O meu pai tranca a porta, tranca o
mal
fora desta casa, e passaram anos.
Ninguém se lembra. Até tu, meu
irmão,
nas tardes de estio olhas para mim
como se
quisesses partir,
como se nunca tivesse acontecido.
Mas eu matei por ti. Vejo
pinheiros armados,
as agulhas daquele forno
dardejante –
De noite volto-me para ti, para me
abraçares
mas não estás lá.
Estarei sozinha? Há espiões
a sibilar no silêncio, Hansel,
ainda lá estamos e é real, real,
aquela floresta negra e o fogo ao
rubro.
Louise Glück
(Trad. Inês Dias)
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