EU PREOCUPO-ME
Eu preocupo-me basto: se o jardim medra, os rios
correm na direcção certa, a terra gira
como Deus manda, e senão, o que é que
eu posso fazer?
Estava certo, estava errado, eles perdoam-me,
poderei eu fazer melhor?
Serei eu algum dia capaz de cantar, até os pardais
cantam, e eu sou, como hei-de dizer?
um caso perdido.
A minha visão está a desaparecer, ou é só imaginação minha,
vou ter reumatismo,
tétano, demência?
Por fim, vi que as preocupações não davam em nada,
e aí desisti. Peguei no meu corpinho
e cá vamos nós, pela manhã,
cantando.
Mary Oliver
(Trad. A.M.)