2.7.21

Pablo Neruda (O insecto)





EL INSECTO 


De tus caderas a tus pies 
quiero hacer un largo viaje. 

Soy más pequeño que un insecto. 

Voy por estas colinas, 
 son de color de avena, 
tienen delgadas huellas 
que sólo yo conozco, 
centímetros quemados, 
pálidas perspectivas. 

Aquí hay una montaña. 
No saldré nunca de ella. 
¡Oh qué musgo gigante! 
¡ Y un cráter, una rosa 
de fuego humedecido! 

Por las piernas desciendo 
hilando una espiral 
o durmiendo en el viaje 
y llego a tus rodillas 
de redonda dureza 
como a las cimas duras 
de un claro continente. 

Hacia tus pies resbalo, 
a las ocho aberturas, 
de tus dedos agudos, 
lentos, peninsulares, 
y de ellos al vacío 
de la sábana blanca caigo, 
buscando ciego y hambriento 
tu contorno de vasija quemante! 


 Pablo Neruda 




Das tuas ancas aos teus pés 
quero fazer uma longa viagem. 

 Sou mais pequeno que um insecto. 

 Percorro estas colinas, 
são da cor da aveia, 
têm trilhos estreitos 
que só eu conheço, 
centímetros queimados, 
pálidas perspectivas. 

Há aqui um monte. 
Nunca dele sairei. 
Oh que musgo gigante! 
Uma cratera, uma rosa 
de fogo humedecido! 

Pelas tuas pernas desço 
tecendo uma espiral 
ou adormecendo na viagem 
ou alcanço os teus joelhos 
duma dureza redonda 
como os ásperos cumes 
dum claro continente. 

Para teus pés resvalo, 
para as oito aberturas 
dos teus dedos agudos, 
lentos, peninsulares, 
e deles para o vazio 
 do lençol branco caio, 
procurando cego e faminto 
teu contorno de vaso escaldante. 


(Trad. Albano Martins)
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