11.7.21

Jenaro Talens (Avatares da intimidade)



AVATARES DE LA INTIMIDAD



Ahora que tu costumbre de blindar sin descanso
los territorios íntimos del ser
poco a poco da paso a un vivir más en calma
descubres que por fin ha llegado tu hora,
la de no poner trabas a la naturaleza.
Te sorprende dejar que lo real penetre
en ti, sin cortapisas, y
puedas decir «te amo» sin que el terror te asalte.
Luego los pormenores cotidianos
giran sin tregua a nuestro alrededor
y ves cómo tu cuerpo dedica su energía
a entregarse a otro cuerpo
mientras dices palabras que nada comunican,
que van desde tu boca hasta mi oído
como una especie de caricia. ¿Aceptas
esta otra forma nueva de monologar? Anoche
te miraba dormir para evitar que el tiempo transcurriese.
Adiviné que tras los árboles que dan sombra al jardín
el silencio es más grande, pero ya no me importa:
sé que algún cielo existe, porque estás conmigo.


Jenaro Talens

[El cultural

 

Agora que teu costume de blindar sem descanso
os terrenos íntimos do ser
cede pouco a pouco a uma vida mais calma,
descobres que chegou enfim tua hora,
a de não pôr peias à natureza.
Admiras-te de deixar que o real te penetre,
sem restrições,
e que possas dizer ‘amo-te’ sem te assaltar o terror.
Depois os pormenores do quotidiano
giram sem parar à nossa volta
e vês o teu corpo dedicar a energia
a entregar-se a outro corpo,
enquanto dizes palavras que nada dizem,
meras carícias de uma boca a um ouvido. Aceitas
tal forma nova de monologar? De noite,
olhava para ti a dormir, para evitar que o tempo passasse.
E adivinhei que por trás das árvores que dão sombra ao jardim
é mais pesado o silêncio,
mas já nada me importa:
algum céu sei que existe, pois tu estás comigo.


(Trad. A.M.)

.