O CORVO
O céu
desta cidade não me vence.
Ao ver a
lua cheia num rasgão de nuvens
esqueço-me
das casas da minha casa,
das ruas
da minha rua, das vidas da minha vida.
Há uma
noite acesa no meu mundo.
E tu
deitas na mesa.
Primeiro
as mãos que não querem esperar
pelo
corpo à beira do colapso
que
julgo financeiro
em
matéria de sexos pois são muitos e novos
os que
tu disfarças.
Depois
vem o aparelho da fala com a tua metafísica
varrida
por vassouras de metal pungente
que
correm pelo teu rosto e tu tão bem disfarças
com a
faca do riso entreaberta.
Por fim
o teu cabelo. É belo olhá-lo.
E belo
vê-lo pousar como um corvo
na
toalha branca do jantar.
E ver
por fim a natureza que te ocupa
o órgão
do prazer,
a música
de Bach ou o ramo de luz
que
cresce dos teus olhos.
Não vejo
o teu coração, deixei de ver a lua.
E o céu
desta cidade não me vence.
Armando
Silva Carvalho