26.6.18

Mário de Carvalho (Era bom que trocássemos)





(E já vamos na página dezasseis)


E porque já vamos na página dezasseis, em atraso sobre o momento em que os teóricos da escrita criativa obrigam ao início da acção, vejo-me obrigado a deixar para depois estas desinteressantes e algo eruditas considerações sobre cores e arquitecturas, para passar de chofre ao movimento, ao enredo. 

Na página três já deveria haver alguém surpreendido, amado, ou morto. 

Falhei a ocasião de “fazer progredir” o romance.

Daqui por diante, eu mortes e amores não prometo, mas comprometo-me a tentear algumas surpresas.

E enquanto me apresso, vou protestando que houve um escritor que demorou trinta magníficas páginas a acordar de um sono e outro que gastou muitas mais a tentar demonstrar, fraudulenta mas genialmente, que a baleia é um peixe...

MÁRIO DE CARVALHO
Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto
(1995)
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Leituras:

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