E foi então que ela, com a mão ainda na maçaneta, deglutindo o grão perfeito do meu chamariz, e desenterrando circunstancialmente uns ares de gente séria (ela sabia representar o seu papel), entrou de novo espontaneamente em cena, me dizendo com bastante equilíbrio 'eu não entendo como você se transforma, de repente você vira um fascista' e ela falou isso de um jeito mais ou menos grave, na linha recta do comentário objectivo, só entortando, um tantinho mais, as pontas sempre curvas da boca, desenhando enfim na mímica o que a coisa tinha de repulsivo...
RADUAN NASSAR
Um copo de cólera
(1978)
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