Agora que sou como nunca o 'lado crítico' do meu Narrador, depois de tantos meses de escrita em que me servi das suas duplicidades, ouço-o contar e sinto-me comprometido até à morte com os seus falhanços e com os seus expedientes de narrar.
Assumo-os, que remédio, visto que são cícios meus e das capacidades que cá vou conseguindo arranjar.
Não me incomoda, por isso, que trate a realidade que está observando como realidade já relatada em termos literários (exploração do espaço da escrita) ou que -vem a dar no mesmo- o facto testemunhado seja simultâneo da sua própria descrição.
JOSÉ CARDOSO PIRES
E agora, José?/ Memória descritiva
(1977)
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