2.3.13

Álvaro Valverde (Jardim privado)





JARDÍN PRIVADO



Nadie ha de entrar aquí.
Para sólo la sombra
levanté las paredes
que dan cobijo al tiempo.
No fue impune el trazado
de las sendas que orientan
su interior movedizo.
Escalas y arrayanes dan forma
a un pensamiento mercenario.
No elegí casa árbol al albur. Fue preciso
conocer cada especie
como a mí me conozco.
El agua sabe el canto
que el silencio arrebata y en su monotonía
otra luz se desvela.
Para nadie he querido este lugar umbrío,
pues que sólo a mis pasos
reconducen sus losas.
Más allá de sus muros,
bajo un único sol,
arde la vida.


Álvaro Valverde




Ninguém há-de entrar aqui.
Para a sombra apenas
levantei as paredes
que dão abrigo ao tempo.
Não foi inocente o traçado
das sendas que orientam
seu interior movediço.
Escadas e murtas dão forma
a um pensamento mercenário.
Não escolhi ao acaso a casa da árvore.
Precisei de conhecer cada espécie
como a mim mesmo conheço.
A água sabe o canto
que arrebata o silêncio
e outra luz se revela na sua monotonia.
Este lugar sombrio não o quis para ninguém
pois as pedras conduzem apenas
os meus próprios passos.
Para além dos muros,
sob a rosa do sol,
crepita a vida.


(Trad. A.M.)

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