5.2.13

Paulo Moreiras (Entrada em Lisboa)





O figurão devia ser homem de grandes negócios, pois tinha o saquitel atulhado de moedas de todos os valores e de grande maquia: era um chorume de chelpa que só visto.

Aquela dilatada melgueira não só lhe garantiria uma refeição quente como também lhe poderia assegurar um sítio para pernoitar durante algum tempo, o suficiente para orientar a sua vida naqueles primeiros dias.

Sem mais detenças e feliz como uma alvorada de passarinhos, guardou o precioso tesourinho na fraldiqueira e enfiou pelo labirinto das betesgas e vielas do Bairro Alto à procura de um quarto para alugar.

A sua aventura começara com bons augúrios, ou assim ele pensava, que aquele dédalo de casario era domicílio de muitos peraltas, casquilhos e trapaceiros, verdadeiro agulheiro de larápios, onde se exercitavam as calejadas artes da ladroeira e da putaria.


PAULO MOREIRAS
O Ouro dos Corcundas
Casa das Letras
(2011)

.