ADVERTENCIA
Si alguna vez sufres — y lo harás —
por alguien que te amó y que te abandona,
no le guardes rencor ni le perdones:
deforma su memoria el rencoroso
y en amor el perdón es sólo una palabra
que no se aviene nunca a un sentimiento.
Soporta tu dolor en soledad,
porque el merecimiento aun de la adversidad mayor
está justificado si fuiste
desleal a tu conciencia, no apostando
sólo por el amor que te entregaba
su esplendor inocente, sus intocados mundos.
Así que cuando sufras — y lo harás —
por alguien que te amó, procura siempre
acusarte a ti mismo de su olvido
porque fuiste cobarde o quizá fuiste ingrato.
Y aprende que la vida tiene un precio
que no puedes pagar continuamente.
Y aprende dignidad en tu derrota,
agradeciendo a quien te quiso
el regalo fugaz de su hermosura.
FELIPE BENÍTEZ REYES,
Los Vanos Mundos,
in
Trama de Niebla (Poesia Reunida 1978-2002),
Tusquets Editores, Barcelona, 2003
Se algum dia sofreres – e hás-de sofrer –
por alguém que te amou e te abandona,
não lhe guardes rancor nem lhe perdoes:
o rancor deforma a memória
e o perdão no amor é só uma palavra
que não diz jamais com um sentimento.
Suporta a tua dor na solidão,
porque o merecimento mesmo da maior adversidade
é justificado se acaso foste
desleal à tua consciência, não apostando
no amor que te entregava
seu esplendor inocente, seus intocados mundos.
Por isso quando sofreres – e hás-de sofrer –
por alguém que te amou, procura sempre
acusar-te a ti mesmo do seu olvido
porque foste cobarde ou foste talvez ingrato.
E aprende que a vida tem um preço
que não podes pagar continuamente.
E aprende a dignidade em tua derrota,
agradecendo a quem te amou
o presente fugaz da sua beleza.
(Trad. A.M.)
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