ESTOU CONTENTE
Estou contente, não devo nada à vida,
e a vida deve-me apenas
dez réis de mel coado.
Estamos quites, assim
o corpo já pode descansar: dia
após dia lavrou, semeou,
também colheu, e até
alguma coisa dissipou, o pobre,
pobríssimo animal,
agora de testículos aposentados.
Um dia destes vou-me estender
debaixo da figueira, aquela
que vi exasperada e só, há muitos anos:
pertenço à mesma raça.
EUGÉNIO DE ANDRADE,
Branco no Branco, 1984
[Bibliomanias]
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