24.9.17

Miguel Barnet (Eu espero-te)





Yo te espero
bajo los signos rotos
del cine cantonés.
Yo te espero
en el humo amarillo
de una estirpe deshecha.
Yo te espero
en la zanja donde navegan
ideogramas negros
que ya no dicen nada.
Yo te espero a las puertas
de un restaurante
en un set de la Paramount
para una película que se filma a diario.
Dejo que la lluvia me cubra
con sus raíles de punta
mientras presiento tu llegada.
 En compañía de un coro de eunucos,
junto al violín de una sola cuerda
de Li Tai Po,
yo te espero.
Pero no vengas
porque lo que yo quiero realmente
es esperarte.

Miguel Barnet




Eu espero-te
sob os letreiros rasgados
do cinema cantonense.
Espero-te
no fumo amarelo
de uma estirpe desfeita.
Espero-te
numa vala onde navegam
ideogramas negros
que já não dizem nada.
Espero-te à porta
de um restaurante
num set da Paramount
para um filme que se roda diariamente.
Deixo a chuva cobrir-me
com seus carris de ponta
enquanto pressinto a tua chegada.
Na companhia de um coro de eunucos,
ao pé do violino de uma corda só
de Li Tai Po,
eu espero-te.
Mas não venhas, deixa,
que o que eu quero mesmo
é esperar-te.


(Trad. A.M.)

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