BECHEROVKA
Norueguesa, alta, de
um moreno
duvidoso que sorria
muito.
Pedia-me
insistentemente para não estar
triste como deveras
estava.
E pagou-me, creio, o
último copo,
antes de me perguntar
"o que fazia".
Escrever, sobre a
morte, não é
exactamente uma
profissão.
Mas foi a resposta que
lhe dei,
enquanto um guardanapo
qualquer
abreviava, só para
ela, a minha "obra".
Nunca saberei se
percebeu a letra,
se comprou os livros,
se chegou
a ouvir o que em
péssimo francês
lhe tentei dizer nessa
noite, a mais perdida.
Os versos são quase
sempre isto: um modo
inaceitável de dizer
que não tocámos o corpo
que esteve, por uma
vez, tão próximo
de nós – e que nem um
nome breve nos deixou.