PENETRÁVEL IV – VERSÃO TURÍSTICA
O poema simula o trajeto de entrada. Por exemplo uma escada
que desce, ou que sobe. Ou ambas. Pode ser escrito em segunda pessoa, desça por
aqui, me siga, cuidado com essa falha no degrau, atenção ao desnível, à geometria
irregular, olhe para a lâmpada, ela nos serve de guia. Até aqui nos víamos,
agora subi um pouco à frente, continuo falando com você, comento algo sobre a
umidade, o mofo das paredes de pedra. Lembro que conhecemos essas escadas. O
inverno deixava as mãos geladas, o odor entrava pelas narinas, a história
pesava em cada viga. Comíamos bolinho de chuva e bebíamos o café. Silêncio.
Olhem a pequena janela que dá para o pomar. Lá fora o mundo é outro, a escada é
a mesma. Esses óculos caídos no chão, alguém o perdeu. São de criança? Crianças
passaram correndo e fazendo barulho. Acabo de virar à direita antes da sala da
biblioteca, que não visitaremos. A luz da lâmpada vai ficando distante. Ouvimos
apenas a respiração uns dos outros. Repare que a luz se apagou.
Marcos Siscar