ACASO
Quando, pela primeira vez, a vi sair
do eléctrico em Lisboa,
era tarde demais para eu saber
o que haveria nela:
que luz, além
do calor que endoidece
as noites de verão,
e que esperança,
salvo esse impulso de árvore.
Vivia para o sol como eu vivi,
para as noites que brilham na cidade
por entre a multidão,
onde só dois se podem encontrar.
Era tarde demais.
Foi-se o tempo em que tudo e nada dura,
e hoje penso no acaso sem remédio
de cada um de nós guardar
o passado em gavetas separadas.
Nuno Dempster