Estranhamente, o momento que deveria ser um de grande medo,
vivera-o ele em paz, com a firmeza de quem tem razão e ajusta contas.
Quando recordava o negrume da noite sem lua, a canelha dos
palheiros, sentia o corpo entesar-se, de novo se via a abrir e a fechar a
navalha de barba, correndo os dedos pela macieza do cabo, a repetir a vontade
que tinha de encarar o homem.
Porque não seria à traição, havia de saber quem tinha
diante, queria vê-lo dar-se conta de que chegara a hora de pagar.
Lançou-se de frente, a navalha horizontal, ao tempo de vê-lo
arregalar os olhos já a cabeça pendia, o talho cerce e tão fundo que quase o
degolara, ele só por um triz escapando ao espichar do sangue.
J. RENTES DE CARVALHO
O Meças
(2016)
O Meças
(2016)
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