DESVÁN
El desván infantil donde sestea
el tiempo
antiguo y polvoriento de todos
los veranos
y la luz, ese enigma, que se
posa despacio
entre objetos y libros, fotos de
antepasados
espiando mis juegos
con las rígidas ropas de los
recién casados.
Y en un rincón manzanas,
pequeñas, perfumadas,
aquel baúl sin llave, misterioso
y cerrado,
símbolo de los años que yo aún
no conocía,
que estaban por llegar, que
ahora son pasado.
Baúl adolescente que abrimos una
tarde
fascinados, con miedo,
silenciosos, solemnes,
tomados de
la mano,
compartiendo los besos de una infancia
borrosa
que de pronto nos deja y se
aleja y se pierde.
He venido de nuevo a revolverlo
todo,
a buscar entre fotos y naftalina
y libros
yo no sé qué memoria que guardo
de mí misma.
He venido otra vez, como antes,
por juego,
esperando encontrar dormido en
el desván
un verso elemental, una trampa,
algún cepo
donde el tiempo al pasar se
pillara los dedos.
Silvia
Ugidos
O sótão da
infância em que dorme o tempo
antigo e poeirento dos verões
e a luz, esse enigma, que pousa devagar
antigo e poeirento dos verões
e a luz, esse enigma, que pousa devagar
no meio de livros
e objectos, fotos antigas,
espiando-me as brincadeiras
com as roupas tesas dos recém-casados.
E num canto maçãs, miúdas, perfumadas,
aquele baú sem chave, misterioso e fechado,
símbolo dos anos ainda por conhecer,
então do porvir e hoje já passado.
Baú adolescente que um dia abrimos
fascinados, a medo, silenciosos, solenes,
de mãos dadas,
partilhando os beijos de uma infância ilusória
que de repente nos deixa, e se alonja, e se perde.
Aqui venho de novo, a remexer tudo,
buscando entre fotos e livros e naftalina
não sei já que memória que guardo de mim mesma.
espiando-me as brincadeiras
com as roupas tesas dos recém-casados.
E num canto maçãs, miúdas, perfumadas,
aquele baú sem chave, misterioso e fechado,
símbolo dos anos ainda por conhecer,
então do porvir e hoje já passado.
Baú adolescente que um dia abrimos
fascinados, a medo, silenciosos, solenes,
de mãos dadas,
partilhando os beijos de uma infância ilusória
que de repente nos deixa, e se alonja, e se perde.
Aqui venho de novo, a remexer tudo,
buscando entre fotos e livros e naftalina
não sei já que memória que guardo de mim mesma.
Aqui venho
outra vez, como dantes, por brincadeira,
à espera de encontrar adormecido no sótão
um verso elementar, uma cilada, algum cepo
em que o tempo ao passar entalasse os dedos.
à espera de encontrar adormecido no sótão
um verso elementar, uma cilada, algum cepo
em que o tempo ao passar entalasse os dedos.
(Trad. A.M.)
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