2.5.17
Federico Díaz-Granados (Retornos)
RETORNOS
No creo en retornos
pero este amargo corazón de casas viejas y calles rotas
late en cada regreso
sin gestos ni ademanes
y sabe que el mundo es un mal lugar para llegar
Y se regresa a escribir un poema que trate de una muchacha en un aeropuerto
que espera un avión de quién sabe dónde
o escribir sobre la carta que nunca recibí aquel sábado
escuchando el viejo cassette con mis nostalgias favoritas
o sobre los versos robados a Salinas, Borges, Walcott
y las tardes de sol en el estadio de fútbol
No creo en los regresos
pero este seco corazón de otros días canta a destiempo
sobre el cielo que quema el nombre de una mujer que amé
No creo en retornos
pero mi vocación de viajero hace que siempre que parto hacia la intemperie en el mundo
deje, como en mis días de boy scout, piedritas y migas de pan
para no perder el camino de regreso a tu cuerpo.
Federico Díaz-Granados
Não creio em retornos
mas este amargo coração de casas velhas e ruas esburacadas
late em cada regresso
sem mais aquelas
sabendo que o mundo é mau sítio para chegar
E volta-se a escrever um poema sobre uma rapariga num aeroporto
esperando um avião sabe-se lá donde
ou então escrever sobre a carta que não recebi naquele sábado
escutando a velha cassete das minhas nostalgias favoritas
ou ainda sobre os versos roubados a Salinas, Borges, Walcott
e as tardes de sol no estádio de futebol
Não acredito em regressos
mas este seco coração de outra era canta a destempo
o céu queimando o nome de uma mulher que amei
Não creio em retornos
mas sempre que parto para a tempestade do mundo
a minha vocação de viajante leva-me, como nos tempos de escuteiro,
a deixar pedrinhas e migas de pão
para não perder o caminho de regresso ao teu corpo.
(Trad. A.M.)
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