O ministério antecedente, denominado Ministério Bexigoso (de cinco ministros, coincidência singular, três eram picados das bexigas) não caíra segundo os métodos parlamentares: aluíra, sumira-se.
Em plena maioria, sem razão, sem discussão, de repente, desaparecera – caso singular, depois, muitas vezes repetido, e comparável à conhecida catástrofe da corveta Saragoça.
A Saragoça, num dia delicioso de Junho, num mar tão calmo como uma larga taça de leite, sem borrasca, sem vento, caiu no fundo do mar.
O casco, parece, estava tão podre que se dissolveu como açúcar numa xícara de chá.
Um indivíduo que estava na esplanada vendo-a dar uma curva magnífica sob um sol resplandecente, abaixara-se para apertar um atilho do sapato, e, ao erguer-se, não viu mais a corveta: sondou ansiosamente com o óculo o horizonte azul-ferrete; olhou aflito em redor, pela praia; mesmo, num gesto grotesco mas muito naturalmente instintivo, apalpou sofregamente as algibeiras: – nada!
O mar brilhava sereno, azul, imóvel, coberto de sol.
EÇA DE QUEIROZ
O Conde de Abranhos
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