Olhava e via: quase nenhum bairro, casa, prédio, posteriores à década de 1960, quer dizer, posteriores à época em que ele saía da infância, merecia outro destino senão uma demolição impiedosa.
Queria lá saber que, antes dessa década e até muito recentemente, as pessoas fossem pobres.
Continuavam a sê-lo, agora pobres de espírito e pobres de gosto, e tinham destruído tudo, a paisagem antiga e habitada, a montanha, as planícies, a costa, tudo o que havia antes é de que ele ainda se lembrava, as casas pobres e dignas, que agora via em ruínas, abandonadas, largadas à beira dos caminhos como animais sarnosos que a impiedade matara.
PAULO VARELA GOMES
O Verão de 2012
Tinta-da-China (2013)
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