A literatura ou é um saca-rolhas engolido
pela boca (e portanto um pleonasmo)
ou é vaidade. Não é despiciendo o número
de desgraçados que engoliu um saca-rolhas
inadvertidamente e assim ficou agarrado
à escrita literária como outros à metadona depois
de se terem livrado da heroína. Mas
não é tão avantajado como pode
parecer passeando a gente os olhos pelas prateleiras
da fnac ou vendo nos sites o número
de títulos que as editoras anunciam por semestre.
Até porque se editam mais livros do que se
fabricam saca-rolhas. Não é preciso tirar um curso
na Universidade Nova para compreender
esta verdade tão simples. Escreve-se essencialmente
para termos o nome na capa de um livro
e um livro num escaparate. E a glória
maior é falarem de nós no Expresso
ou na Ler. Ou sentarmo-nos na Feira do Livro
e termos uma fila de seis pessoas
a pedir autógrafos. Não é por isso que o capitalismo
nos fode a cada esquina ou os políticos
nos hipotecam o futuro. Quer dizer. Da vaidade
literária não vem ao mundo
mal que se veja. Mas é assim. Pelo menos
comigo é assim. Eu nunca engoli um saca-rolhas
e se não fosse por vaidade nunca
havia de escrever a merda de um livro.
José Carlos Barros
[
Casa de Cacela]
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