Neste descampado instante, sinto os namorados da cantiga mais irmanados à minha desamparada solidão.
Não deixa pedra sobre pedra, fico completamente nu, a baloiçar-me de frio por dentro, a alma de súbito a diminuir-se, ficando mais contraída que o corpo.
Aprendi a lição com o vento ilhéu, de fôlego mais absoluto, que continua grande orador nos púlpitos do céu das Ilhas.
Ouço portas e janelas de ferrolhos mui subtis batendo pela casa fora até sentirem meter à conversa com as da vizinhança.
Sinto-as todas rebater no fundo não sei de que víscera, só sei que dói, como se as portadas pertencessem à ampla janela que se rasga no frontespício da estalagem onde moro e (me)moro é em cujo parapeito, em noites menos bravias, me debruço a namorar-te e a olhar-me, contemplado, no poço de teus olhos.
Sume-te, vento vário.
Vai dançar a pavana pra céus de mourama!
CRISTÓVÃO DE AGUIAR
Nova Relação de Bordo
(2004)
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