MIRROR
A white room and a party going on
and I was standing with some friends
under a large gilt-framed mirror
that tilted slightly forward
over the fireplace.
We were drinking whiskey
and some of us, feeling no pain,
were trying to decide
what precise shade of yellow
the setting sun turned our drinks.
I closed my eyes briefly,
then looked up into the mirror:
a woman in a green dress leaned
against the far wall.
She seemed distracted,
the fingers of one hand
fidgeted with her necklace,
and she was staring into the mirror,
not at me, but past me, into a space
that might be filled by someone
yet to arrive, who at that moment
could be starting the journey
which would lead eventually to her.
Then, suddenly, my friends
said it was time to move on.
This was years ago,
and though I have forgotten
where we went and who we all were,
I still recall that moment of looking up
and seeing the woman stare past me
into a place I could only imagine,
and each time it is with a pang,
as if just then I were stepping
from the depths of the mirror
into that white room, breathless and eager,
only to discover too late
that she is not there.
Mark Strand
[
Marcelo Leites]
Uma sala branca, uma festa a correr,
e eu com alguns amigos
debaixo de um grande espelho dourado
ligeiramente inclinado
sobre a lareira.
A tomar uísque,
alguns de nós tentando decifrar
o preciso tom do amarelo
que o sol do ocaso punha nos copos.
Eu fecho os olhos por um instante,
depois olho para o espelho:
uma mulher de verde está encostada
à parede distante.
Parece distraída,
a brincar com o colar
nos dedos da mão,
a olhar muito fita para o espelho,
não para mim, para trás de mim, um canto
que poderia ocupar alguém
que estivesse para chegar,
estando então a iniciar a viagem
que levaria àquela mulher.
Aí, de repente, os meus amigos
dizem que está na hora de ir.
Isto foi há anos e,
se me passou onde é que fomos depois
e quem éramos nós todos,
lembro-me ainda quando ergui os olhos
e vi a mulher a fitar para trás de mim,
um recanto que eu não via e só podia imaginar.
Lembro, com um espinho a morder-me cá dentro,
como se eu então aparecesse na sala,
vindo lá do fundo do espelho,
sem fôlego e ansioso,
só para descobrir tarde de mais
que ela não está ali presente.
(Trad. A.M.)
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