16.9.13
Pedro Andreu (Perder-me-ei devagar)
Me perderé despacio
en tus rincones, en el preciso
hoyuelo de tu risa,
en las comisuras de tus ojos
—perdón, quise decir tu boca.
A veces me confundo:
es tan compleja y rica
toda tu anatomía.
Olvidarme del tedio,
del mundo ardido
que dicen que rompimos,
pero que destrozaron otros.
Dejar plantado mi trabajo,
escupir a mi jefe lo que pienso
de los Servicios Sociales,
desconducir mi coche
cincuenta y dos kilómetros
hasta la calle donde te tiene esclava
una oficina, gritarle basta
a los teléfonos, romper la cremallera
de los meses iguales,
setenta y tres centímetros
de espalda y de deseo: saberte viva
al fin, libre como internet,
como los yayoflautas
o las plantas que crecen
salvajes en las tejas.
Fundar mi patria, la tuya,
nuestra tierra
en dos metros de cama.
Acariciar palabras boca a boca.
Hasta que nada duela tanto.
Hasta que tanto duela nada.
Hasta que el mundo finja
que nos quiere y se digne
—por fin— a ser feliz.
Pedro Andreu
[Las afinidades electivas]
Perder-me-ei devagar
em teus recantos, nas
covinhas do sorriso,
nas comissuras dos olhos
– perdão, da tua boca.
Confundo-me às vezes,
tão rica e complexa
que é a tua anatomia.
Esquecer-me do tédio,
do mundo ardido
que dizem que rasgámos,
mas que outros destroçaram.
Abandonar o trabalho,
cuspir sobre o chefe o que penso
dos Serviços Sociais,
desconduzir o meu carro
cinquenta e dois quilómetros
até à rua onde um escritório
te escraviza, berrar basta
aos telefones, partir a cremalheira
dos meses iguais,
setenta e três centímetros
de costas e de desejo, saber-te
viva por fim, livre como a internet,
como os yayoflautas
ou as plantas que crescem
bravias no telhado.
Fundar minha pátria, a tua,
terra nossa
em dois metros de cama.
Afagar palavras boca a boca.
Até que nada doa tanto.
Até que tanto doa nada.
Até que o mundo finja
que nos ama e se digne
– por fim – a ser feliz.
(Trad. A.M.)
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