21.9.13

Herberto Helder (A água cai em cordões)





A água cai em cordões verticais e vivos, cantando.

Cria-se uma nova, ou muito velha, espécie de solidão em que o súbito gosto da pureza se mistura ao temor.

A água é uma delicadíssima e exaltante matéria.

Talvez os homens desejassem estender-lhe as mãos voltando-as de todos os lados para ficarem bem molhadas.

Uma água vasta e nua, uma água maternal.



- HERBERTO HELDER, Photomaton & vox (Uma ilha em sketches), 2006.

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