Se eu lhe pedia explicação da resistência, respondia-me, baixando os olhos com tanto pejo como severidade; que “o prazer material de um beijo era muito inferior ao gozo que se sentia desejando-o”.
Discorria mui idealmente acerca deste idealíssimo gozo, e acabava por censurar-me a inútil tentativa de beijá-la sem que as sensações corpóreas fossem legalizadas pela bênção sacramental.
Eu ouvia isto com ares de idiota, e perguntava a mim mesmo se eu não era um destes parvos que a natureza caprichosa inventa de século a século para recreio da humanidade apoquentada.
- CAMILO CASTELO BRANCO,
Onde está a felicidade?, XXIX.
.