11.11.09

José Carlos Barros (O amor)







O AMOR




O amor é um rastilho aceso por dentro dos ferros
de púrpura dos meses
O amor é um pano inconsútil pendurado nos arames dos pátios
O amor é uma lenta transmutação da água nos incêndios
O amor é uma âncora dividida entre o peso do lodo e
a leveza insustentável das alavancas hidráulicas
O amor percorre os labirintos de creta sem nenhum fio pretérito
O amor queima por dentro dos pulmões quando
se respira junto às falésias de calcário
O amor é uma pedra e outra pedra escondida
nas gaivas oscilatórias dos sismos
O amor é um vórtice onde se misturam palavras e buracos negros
O amor é uma árvore com as raízes atadas à nuvem das lágrimas
O amor é uma onda que precede o desmoronamento das
cabeceiras declivosas das penínsulas
O amor é uma molécula da água a transformar-se em éter
O amor é a fórmula de heisenberg
O amor é um mapa em que o momento e a posição não coincidem
O amor é a pele incandescente
O amor é uma puta
O amor é um arco que dispara em círculo
contra o desprotegido coração.



José Carlos Barros



[Casa dos poetas / com nota]