(Corte de luz...)
Uns dias depois, ao entardecer, estava eu nas águas-furtadas preparando-me tranquilamente para limpar o cachimbo quando me cortaram a luz.
A princípio, inclusive, trocei comigo mesmo e disse que aquilo era como dizer adeus às luzes da boémia.
Mas à medida que passavam os minutos e ia caindo a noite, fui-me dando conta de que o assunto era sério.
O vizinho negro emprestou-me uma vela contrariado e passei a noite com a chambre a meia-luz à espera que se fizesse dia para ir falar com Marguerite e contar-lhe o que se tinha passado.
Devia mostrar-me indignado?
Com ela claro que não.
Bem vistas as coisas, devia-lhe sete ou oito meses de renda.
O que é que esperava?
Não pagar e ter eternamente luzes de boémia nas minhas águas-furtadas?
- ENRIQUE VILA-MATAS, Paris nunca se acaba, 113.